terça-feira, 2 de março de 2010

a) A Oração de Jesus no Novo Testamento

O Novo Testamento, sobretudo os quatro evangelhos, insistem em que Jesus tomava a oração muito a sério. Não entendia a oração como um conjunto de palavras mágicas capazes transformar o querer de Deus.

Além de ser modelo de oração, Jesus é também uma mediação para podermos falar com o Pai no Espírito Santo. Graças a Jesus Cristo temos acesso a Deus como membros da Família Divina. Nele, a nossa oração torna-se oração do Filho de Deus, pois estamos organicamente unidos a Ele.

Pelo mistério da Encarnação ficámos a pertencer à Família de Deus. Somos filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação a Deus Filho (Rm 8, 15-16). Deus Espírito Santo é o vínculo orgânico de comunhão que nos liga ao mistério da Santíssima Trindade (Rm 8, 14).

A nossa oração está tanto mais em sintonia com Deus quanto mais acontece no Espírito Santo e pela mediação de Jesus Cristo: “Mediante a fé em Jesus Cristo podemos aproximar-nos de Deus com toda a liberdade e confiança” (Ef 3, 12).

São Paulo insiste em que Jesus é o único medianeiro entre nós e Deus: “Para nós não existe mais que um só Deus, o Pai de quem tudo procede e um só mediador entre Deus e nós, Jesus Cristo, Homem” (1 Tm 2, 5).

Como medianeiro, Jesus é o nosso Sumo-sacerdote, como diz a Carta aos Hebreus: “Uma vez que temos um sumo-sacerdote que penetrou nos Céus, Jesus o Filho de Deus, mantenhamo-nos firmes na fé que professamos.

Com efeito, não temos um sumo-sacerdote incapaz de nos compreender e se compadecer das nossas fraquezas, mas temos um sumo-sacerdote que foi tentado como todos nós, embora não tenha cometido pecado. Aproximemo-nos, pois, confiante do trono da graça, a fim de encontrarmos graça e apoio nos dias de necessidade” (Heb 4, 14-16).

Na Carta aos Romanos, o Apóstolo Paulo manda aos cristãos para se manterem alegres na esperança, pacientes nas dificuldades e fiéis na oração (Rm 12, 12).

Na carta aos Colossenses, pede à comunidade de Colossos para perseverarem na oração estando atentos e gratos a Deus (Col 4, 29). A primeira carta aos Tessalonicenses, aconselha a orar sem cessar (1 Tes 5, 17).

As comunidades apostólicas permaneciam perseverantes na oração e fiéis aos ensinamentos dos apóstolos (Act 2, 42). São Paulo aconselha os Tessalonicenses a orar sem cessar (1 Tes 5, 17).

No evangelho de Mateus, aparece Jesus a recomendar aos discípulos para vigiarem e orarem, a fim de não serem vencidos pela tentação (Mt 26, 41).

Enquanto Pedro permanecia na prisão, a comunidade rezava incessantemente, pedindo ao Senhor a sua libertação (Act 12, 5).

Na primeira Carta a Timóteo, São Paulo mostra o desejo de que todos possam orar com o coração puro sem hesitações nem azedumes (1 Tim 2, 8).

No Evangelho de São João, Jesus aconselha os discípulos a orarem ao Pai em Seu nome e receberão tudo o que pedirem, a fim de a sua alegria ser completa (Jo 16, 24).

A primeira carta se São João diz aos cristãos que Deus acolhe a oração que está de acordo com o seu querer. Se Deus acolhe e atende a nossa oração, então devemos estar seguros de obter o que lhe pedimos (1 Jo 16, 24).

b) Jesus Modelo de Oração

Nos momentos mais significativos da sua vida, Jesus orava. São Lucas diz que, após o seu baptismo, entrou em oração. Como resposta à sua oração, os Céus abriram-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma de pomba. No mesmo instante ouviu-se a voz de Deus Pai vinda do Céu dizendo: “Tu és o meu Filho muito amado no qual ponho o meu enlevo” (Lc 3, 21-22).

No momento de escolher os doze Apóstolos, Jesus retirou-se para uma montanha e passou a noite em oração (Lc 6, 12-13).

Lucas diz que Jesus, antes de fazer a pergunta aos discípulos sobre o significado da sua pessoa para eles, esteve em oração (Lc9, 18). No evangelho de Lucas, Jesus é sobretudo o grande mestre de oração e da exultação no Espírito Santo.

No momento da sua transfiguração, Jesus estava em oração, diz Lucas (Lc 9, 28-29). No Jardim das Oliveiras, passou o tempo em oração e pediu aos discípulos para orarem, a fim de não entrarem em tentação (cf. Lc 22, 39-42). Na cruz, orou pelos seus inimigos (Lc 23, 34).

Jesus é-nos apresentado pelos evangelhos, especialmente por Lucas, como um homem que orava nos momentos críticos. Lucas pretendia dizer-nos o que devemos fazer nos momentos difíceis.

A oração não é uma maneira mágica de modificar Deus. Pelo contrário, quem se modifica na oração é o homem. Mediante a oração a pessoa vai-se transformando no sentido da vontade de Deus que é muito melhor para nós do que a nossa própria vontade.

De facto, Deus ama-nos incondicionalmente. Sabe muito melhor o que é bom para nós do que nós mesmos. Por esta razão a vontade de Deus coincide com a nossa: querer o melhor para nós.

Mas como Deus conhece de modo infinitamente mais perfeito o que é melhor para nós, o seu conhecimento do melhor e a sua vontade de no-lo conceder coincidem. Por isso Deus nos dá o que realmente é melhor para nós, mesmo que o não saibamos.

Jesus orava por si e orava igualmente pelos discípulos e pela humanidade: “ Eu rezei por ti, Pedro, a fim de que a tua fé não vacile (Lc 22, 32).

No Evangelho de João aparece uma oração de Jesus em favor dos discípulos. Nesta oração vislumbra-se claramente a Igreja já implantada. João queria significar a oração de Jesus não apenas pelos Apóstolos, mas também por todos os que viriam a formar o Novo Povo de Deus (cf. Jo 17, 9-16).

Noutra passagem, a oração de Jesus pela totalidade dos cristãos, aparece de modo muito mais explícito: “Não peço apenas por eles (os discípulos), mas também por todos aqueles que irão acreditar em mi pela sua mensagem” (Jo 17, 20).

Jesus orou pelos seus inimigos, mesmo por aqueles que o estavam cravando na cruz: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que estão fazendo” (Lc 23, 34).

Uma vez sentado à direita do Pai Jesus Cristo, diz a Carta aos Hebreus, continua a interceder por nós (Heb 7, 25). É nesta intercessão de Jesus junto do Pai que assenta a eficácia total da oração feita em Jesus.

Estamos organicamente unidos a Cristo Ressuscitado pelo vínculo orgânico do Espírito Santo. Orar no Espírito, portanto, é orar em união com Jesus Cristo. Deste modo participamos da plenitude da eficácia da oração de Cristo.

Nos momentos de grande importância para sua missão messiânica, Jesus orava sempre. Orou antes de ensinar as multidões (Mc 1, 35).

Certo dia em que Jesus estava orando, os discípulos aproximaram-se e pediram-lhe para que os ensinasse a orar ao seu jeito. Nesse momento, Jesus ensinou-lhes o “Pai-nosso”, não como uma fórmula para ser simplesmente repetida, mas como critério para o que deve ser a oração como diálogo com Deus sobre o que mais interessa ao Homem e a Deus.

A prova de que os apóstolos não entenderam o ensinamento do “Pai-nosso” como comunicação de uma forma a repetir literalmente, está no facto de o “Pai-nosso” de Lucas não coincidir com o de Mateus (cf. Lc11, 1; Mt 6, 9-13).

Certo dia em que a Palavra que Jesus foi muito bem aceite pelos ouvintes, o Senhor exultou de alegria no Espírito Santo e louvou a Deus Pai por esse facto (Mt 11, 25-26).

Outro dia em que estava impondo as mãos sobre a cabeça das crianças, Jesus orou por elas (Mt 19, 13).

Muitas vezes, depois de despedir as multidões, Jesus retirava-se para um lugar isolado e, sozinho, falava com o Pai (Mt 14, 23).

O procedimento de Jesus contrasta com o de tantos pregadores que pretendem pôr a eficácia da sua pregação na erudição ou na simpatia.

c) A Oração em Hinos e Cânticos

O Antigo Testamento tem uma tradição riquíssima sobre cânticos e hinos utilizados como forma de oração. Basta pensar nos salmos. Mas para além destes existe uma série grande de hinos que testemunham o valor destas formas de oração na espiritualidade do povo bíblico.

O Novo Testamento assume plenamente esta tradição e espiritualidade do Antigo Testamento. O Cântico e a proclamação de hinos são mediações importantes para a oração de louvor, acção graças, adoração e gratidão.

A carta aos Efésios aconselha os membros da comunidade a comunicar com o Senhor com cânticos, hinos e cânticos espirituais, louvando o Senhor nos seus corações (Ef 5, 19).

A carta aos Colossenses aconselha os membros da comunidade a ser motivo de edificação uns para os outros, com salmos e hinos espirituais, cantando sob a inspiração e o impulso da graça de Deus (Col 3, 16).

São Tiago, na sua carta, faz a seguinte recomendação: “Está alguém triste entre vós? Que ore. Está contente? Então que louve com hinos e cânticos (Tg 5, 13).

Mateus diz que Jesus e os discípulos terminaram a Ceia pascal cantando um hino. Depois retiraram-se para o Jardim das Oliveiras (Mt 26, 30).

Na primeira carta aos Coríntios, São Paulo aconselha que se faça oração com a mente e com o Espírito, cantando ou rezando (1 Cor 14, 15).

Segundo o livro do Apocalipse, os eleitos, no Céu, cantam um Cântico Novo, a fim de louvar Jesus Ressuscitado, agora entronizado para sempre como rei universal e glorioso (Apc 5, 9).

A oração, para o Novo Testamento, é uma mediação privilegiada de comunicar e comungar com Deus.

É pela oração que a nossa mente e o nosso coração se vão configurando com a vontade de Deus. A oração não é nunca um conjunto de palavras mágicas das quais podemos dispor par manipularmos Deus.